sábado, 25 de janeiro de 2014

John Lennon da Estudantina



Me encostei em uma mesa de madeira, tateando-a para ver se podia sentar. Estava muito quente já pelo clima natural de janeiro, e ainda mais pelo calor humano que se instalava na Estudantina. Ao meu redor, pessoas dançando juntinho um forró lento, o famoso ''xote'', outras se arriscando nos passos, mesmo sem saber. As que não estavam na pista, procuravam alguém para dançar ou apenas ficavam no balcão bebendo cerveja.
A mesa estava molhada, portanto me escorei nela procurando um momento de descanso e refresco, mesmo sem uma brisa. Dois amigos estavam a um metro de mim, rindo e se beijando. Os outros, nem sabia por onde ''dançavam''. Observei a pista cansada, o vestido colava em mim de tanto suor. Só tinha sobrado um pouco de batom nos lábios e o cabelo estava desarrumado.

"Oi linda, você está sozinha?", tomo um susto quando ouço ao pé do ouvido. Ele sorriu, e eu fiz o Raio-X: Indivíduo da minha altura, magro, mulato, trancinhas tipo-Snoopy-Dog. Um brinco que parecia um diamante pendurado nas orelhas. Calça jeans dobrada até os joelhos. Não vi os sapatos, mas pareciam All Star.

''Oi, ehm, estou com os meus amigos…'' sorri, para não ser grosseira, caçando os meus amigos com os olhos desesperados. Eles não estavam mais ali. Merda! Que amigos são esses?!

"Qual o seu nome?''
"Marina…'', respondi me arrependendo de não ter dito ''Joana'', ''Lara'', ou até mesmo ''Francyellen''. Sempre penso em me apresentar com outro nome.

"Estava te vendo aqui sozinha há uma meia hora. Querida, seu sorriso é lindo, você é linda demais. Esse batom, esse cabelo, essas sobrancelhas. Sua beleza é natural, mas você tem presença. E o que importa pra mim é a sua presença aqui comigo. Vou te falar uma coisa, querida: você é maravilhosa!"

"Querida"? Ele estava me xavecando ou querendo pegar a marca do meu batom? Anitta expulsa as invejosas e eu as trago mais para perto, é isso? Deus, is this some kind of joke?

"Ah, obrigada, mas você só está aqui há cinco minutos. Como pode saber tudo isso de mim?''

''Você é um mulherão! Vai dizer que você não se olha no espelho e não se acha gata?!''

Parei. Sim, é verdade que eu me olho e não me acho feia, mas também maravilhosa é um pouco dema…

''IH, pensou! Então você se acha gata, tá vendo! Querida, você quer beber alguma coisa? Uma água, uma cerveja? Me diz o que posso fazer por você?"

"Obrigada, não quero nada, não. Mas… você não disse seu nome..?"

"Meu nome é John Lennon"

Peraí, eu ouvi certo? John Lennon?

''Como é? John Lennon? Sério?''

''QUERIDA (começou…), você acha que eu estaria mentindo para você desde que eu cheguei para falar contigo? Você acha que eu mentiria sobre te achar linda? A troco de quê? Se eu pudesse, te faria feliz hoje, amanhã e até quando Deus quisesse… "

Tive certeza que era castigo, mesmo. Eu fico sozinha e o cara que vem puxar papo comigo se chama John Lennon? Não bastou sofrer por todos os meninos de nomes normais no fim de 2013, e agora no começo do ano Deus quer me agradar com um falso-astro-da-música?!

Me arrastou para o balcão e pediu uma água e dois copos. Na minha cabeça, ouvi meu pai dizendo ''Minha filha, nunca aceite bala de estranhos e nunca beba no copo dos outros''. Ri por dentro, e me senti criança novamente, num misto de bobagem e seriedade com a situação.

Ele abriu a água na minha frente e me serviu. Bebi. Achei que seria de extrema má vontade não beber, mas já me imaginei caída num beco sujo, sem lenço e sem documento no dia seguinte.

Depois disso, "John" me fez apresentá-lo para os meus amigos e ainda queria ficar comigo a noite inteira, me levar em casa de moto (DE MOTO! Meu pai teria um surto se me visse) e direcioná-lo para casa, de Copacabana. E tentou me beijar, claro, como um bom xavequeiro.
Não dava mais, estava de bom tamanho, eu já tinha feito o meu papel de boa moça, educada e sorridente. Tinha que dar um NÃO logo de cara, para ele entender que comigo é assim.

''Olha, você é muito legal, mas VAMOS VER, está bem? Não prometo nada.''

John foi embora com meu telefone. Não consegui dizer a palavrinha mágica negativa de três letras. Agora me arrependo por receber mensagens no Whatsapp dizendo que sou ''linda de mas muito mesmo''. Não respondo, mas sou elogiada todo dia, mesmo com o português errado.