domingo, 31 de agosto de 2014

Gente como a gente

Eu sabia que existia uma menina linda na época do colégio. Ela era mais velha do que eu.
Soube que ela estava mais próxima do meu círculo social quando a vi malhando na minha academia. Corpo escultural e sempre sorridente. Depois, soube que era amiga de uma amiga da minha mãe. E o círculo se estreitou ainda mais. Eu sabia que um dia iria esbarrar com ela e teria que encarar: ela, linda e gente boa e eu, gordinha tensa e invejosa. As pessoas citavam o nome dela com brilho nos olhos, falavam de como ela era bonita e tinha uma bela barriga chapada.
Caralho.
Indo para um aniversário, já sabia que ela estaria lá. Botei uma roupa confortável e nada apertada, para não marcar. Chegando, avistei-a sentada e sozinha. Chegando perto, encolhi a barriga o máximo que pude e arrumei a postura. Sabia que não adiantaria porque minha cara inchada já denunciava o peso. Mesmo assim, dei meu melhor sorriso e a cumprimentei com dois beijinhos. Ela me abraçou e disse que já me conhecia… Sim.. do colégio… Faz tempo, ó - fez, estalando os dedos.
Mesmo com poucas falas, percebi que ela era mesmo tudo o que diziam, e era esse o meu medo: não conseguia, nem por um segundo, ter raiva dela, daqueles cachinhos dourados e daquela coxa sem celulite. Depois soube que ela tinha sofrido na infância, que tinha terminado um namoro de cinco anos e também tinha dúvidas quanto a faculdade. Por fim, ela disse que me seguiria no Instagram e pude perceber sua leve língua presa. Ela é linda e simpática, e principalmente gente como a gente.