quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Será que ele é?



Com a falta de homens no mercado, mulheres passaram a ter a seguinte dúvida: é gay ou não?
Elas carregam esse fardo, coitadas, para todo o lugar. Na rua, no supermercado, no trabalho, na faculdade, no cursinho de inglês, na praia… Em cada olhada, a dúvida. Porque em todo o lugar tem gay que parece hétero, e hétero que parece gay.
Hm, ele conhece gírias do mundo homossexual, mas fala de mulher. Enrustido? Não pode ser…
Às vezes, nosso achômetro apita uns 70% para a homossexualidade do indivíduo, mas os outros 30% não querem acreditar: MAS POR QUE? - elas se perguntam - Ele é tão gentil, educado, divertido, bonito… Tinha que ser gay? E vocês pensam que não, mas mulher está sempre reparando em cada movimento, cada jogada de cabelo ou desmunhecada. Elas estão à procura, nada mais natural do que observar atentamente. Tem horas que precisam se distrair, porque elas quebram a cabeça tentando desvendar o mistério por trás de cada rebolada. E elas bolam perguntas estratégicas, para você pender para um lado. Pena que, às vezes, esse lado é colorido.
Eu sou do tipo que sempre se interessa pelos gays, mas quando descubro que são gays, me apaixono perdidamente e viro friend forever.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O tchau

Vejo minha chefe nesse momento ligando para o programa da Ana Maria Braga e falando com alguma produtora que não conhece o Centro Cultural. Amanhã será minha ex-chefe. Chefe também vira ex, tipo ex-namorado? Não gostaria de cortar relações com ela, e nem é esse meu propósito. Ela fala com muita segurança, simpatia e um leve sorriso nos lábios. Ela gosta do que faz. Lembrei de quando entrei para trabalhar lá, tentava me espelhar nos gestos e nas palavras ao telefone, muito bem colocadas para atrair jornalistas. Era dom, e eu só arranhava. Agora me mostra algumas fotos que sua sobrinha de 12 anos, Nina, tirou dela, para seu livro que vai ser lançado em novembro. Me disse que se eu esquecer da estreia, vai me buscar em casa. E tem como esquecer? No meio de e-mails, releases, fotos e ligações, abro o Word para escrever esse meu último dia, que já é noite. Estou em clima de festa, feliz por estar fazendo outra "viagem profissional", mas deixo para trás pessoas queridas que me acolheram com muito carinho, e também se despedem com o mesmo sentimento. Penso com alegria que, por sorte, a vida sempre me botou em lugares cujas pessoas me acolheram bem. Aqui seria só mais um deles. Cantamos parabéns pelo meu aniversário - atrasado - e pela despedida. Naquele momento, juntou o pessoal da cantina, da secretaria, da produção, da limpeza, o segurança e minha chefe, todos cantando em uma roda onde estava um bolo de laranja com brigadeiros em volta. Só faltou o rabino e os diretores, mas não me importei. Eu estava feliz, genuinamente feliz. Fez-se um silêncio e minha chefe gritou que eu era a melhor estagiária que ela já tinha tido!!! (com muitas exclamações). Não sei a cara que fiz, mas provavelmente tinha muita vergonha. Acabei meus afazeres, mas fiquei sem coragem de desligar o computador e guardá-lo dentro do armário. O que eu estava fazendo? O que me esperaria lá fora? Não sei. Desliguei e andei calmamente até a salinha. Abri o armário como se estivesse deixando lá um presente, intacto. Guardei-o com delicadeza e fechei em silêncio as portinhas. No segundo andar estava tendo uma palestra internacional, ministrada por um americano e um uruguaio que falavam português. Não sei se falavam ou ditavam, pela lentidão. Entrei silenciosamente na sala para fazer meu último registro. Ilana se postava junto ao rabino na última fileira. Ela de olhos fechados. Entrei na cabine de som, Gerson me olhou e perguntou se eu estava indo. Hesitei, mas fiz que sim com a cabeça. Ele levantou da cadeira e me deu um longo abraço e um beijinho no pescoço. Nem liguei. Despedidas não exigem formalidades, somente o calor do abraço e o que mais o corpo pedir: lágrimas, carinhos e torcida para o futuro. Sai da cabine, agachei ao lado da Ilana e sussurrei "Estou indo". Ela abriu os olhos e se levantou, pegou com as duas mãos em concha o meu rosto e deu um sorriso. Falou para eu não sumir. E teria como sumir? Ela se sentou e o rabino se levantou e me deu dois beijos, me desejando sorte. Vindo de um rabino, será que vale a sorte tem peso dois? Subi de novo as escadas para encontrar minha chefe, que continuava, preocupada, no computador. Parei na sua frente e desabafei o quanto era difícil me despedir, por isso daria um "até logo". Ela riu e fechou o computador. Descemos juntas e ela espiou a sala do segundo andar. Ilana continuava de olhos fechados e pensei que estivesse dormindo com a lentidão das palavras ditas pelos palestrantes. No térreo, me despedi dos meninos da secretaria e da produção. Felipe me lembrou que eu estava devendo "chopes com juros" a ele, e falei para marcarmos. Coisa de carioca. Ano que vem a gente marca. Por fim, dei um longo abraço em minha chefe e ela fez os melhores votos para a minha felicidade, e ali, naquele momento, eu quis realmente chorar. Não chorei. Me virei e me despedi também do Fred, os segurança, que disse "mas já?". Sim, Fred, "mas já", mas eu volto para cá ainda, muitas vezes, você vai ver. 
Acenei para o terceiro táxi que passou vazio e entrei sem olhar para trás. Uma parte de mim fica, mas a grande parte foi junto. Meus olhos cruzaram o retrovisor e logo se desviaram, e um sentimento de felicidade me pegou de surpresa: era a última vez que pagaria R$17,00 voltando à noite do Leblon.