terça-feira, 11 de março de 2014

Irmãzinha peluda



Quando eu era criança, sempre quis ter um cachorrinho. Mas, mesmo muito nova, sempre pensei que um dia, ele iria embora e eu sofreria muito. Por isso, preferia não ter.
Com oito anos, ganhei a Manuela, uma poodle toy grande-demais-para-ser-toy caramelo. Minha mãe a reservou, era a única. Me apaixonei de cara, ela tinha alguns dias de vida, apenas. Meus pais a pegavam  no colo e ela era do tamanho da palma da mão deles.
Meu pai construiu uma caminha para ela: pegou uma caixa de isopor, cortou a parte de cima, para ficar mais baixa, e construiu uma escadinha para ela subir. Dentro, uma almofada do tamanho certo, para ficar mais confortável. Em sua primeira noite em casa, ela chorou, e eu, criança, chorei junto, dizendo a ela para não chorar.
Quando cresceu, dormia na cama com meus pais, assim como eu fazia.
Manu participou de viagens, correu nas praias de areia fina de Cabo Frio e na grama verde da nossa casa em Teresópolis. Morou em frente à praia. Segundo meu pai, foi mimada igual a mim. Ela vivenciou brigas dos meus pais, assim como eu, e me viu chorar. E mesmo se ela estivesse triste por dentro, sempre deitou ao meu lado e lambeu minhas lágrimas. Por isso, desde que chegou, já era minha irmãzinha.
Pois bem, 14 anos se passaram. Manu foi leal, parceira e companheira até o último dia. Aquele medo de criança tinha voltado, o medo da partida, da despedida. Mas ao contrário do passado, eu não tinha me arrependido de tê-la. Experimentei cuidar de um ser que necessitava de muito carinho e amor, e o dei com todo o prazer. O maior amor. Manu já não era cachorro, era gente. Tinha sentimentos, medos, felicidades, e estava ali, mesmo surdinha e ceguinha, o tempo todo.

Agora ela está no céu, junto com meu avô, que ela também amava tanto. E os dois comem muitos doces juntos!

Te amo para sempre.
Até qualquer dia, minha bolinha de caramelo peluda.
Cuida de nós, como você sempre fez.