quinta-feira, 16 de maio de 2013

O poder enigmático das desculpas



"(...) Olha só, para mim não dá mais. Eu gosto muito de você, mas não dá mais! Por que você é assim? Você me dói como mais ninguém com essa insegurança e essa dúvida de não saber se quer ou não. Esses afagos que você dá como quem não quer nada mexem comigo, e muito! Eu não sei o que você quer, só sei de mim. Rir de tudo, até quando estou falando sério, não é a melhor das coisas a se fazer. Eu quero estar junto, você sabe, e eu falo muito sério. E eu não quero qualquer pessoa. Se eu te falo isso, é porque é você que eu quero, entendeu? Presta bem atenção: eu estou aqui, olha. Olha como eu estou, talvez, perdendo tanto o meu tempo com alguém como você quando podem ter milhões de pessoas por aí que já estariam aqui comigo num piscar de olhos. E se você me olha, se você me escuta, e se você não quer me deixar mal, talvez você me queira também. Esse seu medo me irrita. É medo de que? Menino, se as coisas não derem certo, tudo bem, sempre tem outro dia, e outras coisas, e a amizade. Mas o que custa tentar? Se a gente imagina o outro do nosso lado, vale à pena tentar. Você não acha?

- Cara, desculpa. Só isso. Desculpa."

Des-cul-pa. Essas três silabinhas que fazem qualquer mulher cair para trás - ou de quatro? - e  abaixar a guarda mesmo com um puta argumento na ponta da língua. É raiva que cessa, e muda pra'quela raivinha mansa de nós mesmas por não sentirmos mais tanta raiva assim. A desculpa faz um carinho na cabeça mas ainda acelera o coração. Será que tem mais? Nunca tem. As desculpas nos apunhalam pelas costas e nos fazem ficar ainda mais bobas, tolas, babacas, sonhadoras... Apaixonadas.

domingo, 12 de maio de 2013

Maternidade gritando


Dia das Mães. Dia das Mães significa ficar pensando no começo do mês de maio o que dar para àquela que te gerou e te criou como todo o amor do mundo. Significa pedir cesta de café da manhã ou confeccionar o seu próprio café na mesa com um jarro de flores. Significa sacaneá-la com as frases "tem que comer tudo!", "leva casaco!", "pergunta pro seu pai" e "você não é todo mundo".
Eu acho um absurdo as pessoas que não saem de casa pelo Dia das Mães. Por que o mundo resolveu criar esse negócio de dar nome aos dias? Dia das mães é todo o dia, cacete. Não é porque hoje abençoaram o dia com esse nome que eu vou amar minha mãe mais do que ontem. Talvez se fosse feriado, quem sabe... Mas todo dia deveria ser dia de abraçar sua mãe e dizer que a ama.
Dia das Mães é fake, galera, só serve pra gastar dinheiro!

Minha mãe me dá trabalho, e é verdade. Nossa relação sempre foi muito boa, mas devido a problemas em casa, ela foi ficando cada vez mais difícil. Me tornei uma pessoa dura que nem pedra, para poder suportar a dor de ter que ver minha mãe sofrer às vezes. Até hoje eu não choro na frente dela. Não deixa de ser uma forma de fraqueza, mas ela que sempre foi meu porto seguro merece que eu seja o dela. Isso me fez ficar cada vez mais sensível por dentro ao passar dos anos. Carência é meu sobrenome, e ter que admitir isso é horrível. Sou filha mas também sou mãe, também abraço quando chora e também chamo pra dormir. Às vezes eu durmo na cama dela porque tive pesadelo. Ela dorme na minha cama aos domingos para ficar agarrada comigo. Nossa fase difícil também fez o amor ficar mais forte, não somos nada sem a outra. Eu não consigo viver sem ela. E ela ficaria muito desamparada sem mim. A gente se completa que nem feijão com arroz. 

Minha mãe e meu pai me criaram com a realidade na ponta da língua. Sempre falaram sobre drogas, sexo e violência comigo. E foi fácil me criar, nunca fui revoltada e quis fugir de casa. Acho que a criação desde a infância é extremamente importante para saber como seremos no futuro. Nunca fumei, me droguei e cometi ato de violência. O sexo eu fiz, admito. Mas com todo o consentimento dos dois, o apoio e a devida educação direcionada. Meu pai dizia "você já é grande, já sabe tudo, não podemos te ensinar mais nada, agora é por sua conta". E assim foi. Hoje caminho com as minhas próprias pernas e ajudo aos outros a caminharem também. Mas eu não caminharia por mim mesma atualmente se não fosse aquela ajudinha com as mãos quando eu era bebê.

Me deparei com um comercial lindo de Dia das Mães, o da Renner. Assisti em casa e depois passei para minha chefe e minhas outras amigas no estágio. Assistimos 5 vezes seguidas, e eu chorei 5 vezes seguidas. Minha querida chefe Letícia disse: "Se você tá assim, é a maternidade gritando dentro de você! Vai se preparando, arrumando um bom rapaz para pensar no futuro." Isso me assustou. Eu com duas décadas de vida, SÓ, estaria querendo ser mãe? Não é possível! Ser mãe me faz pensar em uma série de questões que me apavoram, como noites, marido, comida, escola, atenção, cuidado. Mas vejo o filho de outras pessoas e penso que acho que seria uma ótima mãe, assim como a minha foi para mim no começo da minha vida.

Se eu fosse mãe, choraria ao ver arte feita de macarrão, argila pintada e massinha. Ia tomar banho junto. Ia deixar ele/ela escolher a roupinha. Ia adorar ir ao colégio ver a homenagem de Dia das Mães.
Ah, se eu fosse mãe... Mas tomara que ainda demore muito.
Vou calar a boca da maternidade-que-grita com uma chupeta! Cada coisa na sua hora!

Ser mãe deve dar um puta trabalho, assim como a minha mãe dá.
Mas deve ser igualmente uma relação de dor e delícia. Só quem é mãe, sabe.
Hoje nossas rainhas merecem toda a delícia.

Feliz Dia das Mães do Isso Não se Fala,
um beijo,
Marina

Feliz Dia das Mães para a minha futura sogra, sejá lá quem for. hahahaha!


quinta-feira, 9 de maio de 2013

Mais um dia


(pipipipi pipipi) AAAAH mas já?! Despertador de merda. O QUÊ?! Meu Deus, são 6:02. Vou chegar atrasada com certeza! Ah mas esse professor faz chamada 7:15, menos pior. Vamos fazer isso rápido.
Que roupa eu vou vestir? Odeio ficar parada em frente ao espelho. Tô gorda. Vou me atrasar. Vai a calça jeans mesmo e... essa... não, essa... talvez ess... não. Essa! Faltando tu, vai tu mermo. Eu fico bem de cinza, eu acho. Já botei cinza ontem. Droga, agora deixa. E o sapato? Ah, vai o All Star que já tá ali. 
- MÃÃÃE, FAZ UM SANDUÍCHE PRA MIIIIIIIIM?
Ela vai querer que eu tome café com leite, mas não vai dar tempo. Da próxima vez eu juro que vou acordar pelo menos 10 minutos antes. Eu juro!
Ai que frio que tá essa rua, pra quê isso essa hora?! Na PUC vai estar mil vezes pior. Vou ficar lá dentro, esse vento gelado vai piorar minha tosse, e se piorar eu não vou poder malhar amanhã. Tomara que eu não chegue muito cansada e queira faltar a academia. Não posso. 10 kilos. Que vontade de comer aquele bombom de brigadeiro que vende na banca e que a Fernanda me "apresentou". Se não fosse ela, hoje eu nem saberia o gosto daquele veneno e não estaria pensando nisso às 6:36 da manhã... CORRE PRA PEGAR O SINAL ABERTO! TÁ PISCANDO! Ahhh, consegui. Porra!
Droga, pouca gente no ponto significa que o ônibus acabou de passar. Vou esperar só um pouquinho, se demorar mais de 10 minutos eu pego um táxi. 

TÁ VINDO! EIKE SORTE!
Onde vou sentar? Vou sentar ali do lado daquela velhinha porque com certeza ela vai saltar antes, e eu vou poder sentar na janela. É. Odeio encontrar gente conhecida no ônibus. Por que o senhor prefeito não bota mais 435 e 432 na rua? É por isso que o ônibus vai lotado e eu consigo sentar só lá por Ipanema às vezes.
Nossa, que menino lindo. Obrigada prefeito por botar poucos 435 e 432 na rua. Ele não olhou pra mim, acho que vou mandar um Spotted pra ele. Não! Que mané Spotted, isso só dá problema e não leva a lugar nenhum. Tem cara que faz Direito. Ele podia fazer direito comigo também, não ia reclamar (rindo por dentro). Hoje vai fazer sol, espero que fique assim até o fim de semana, preciso pegar uma corzinha. Sempre penso isso, mas raramente tenho ido à praia. Preciso de mais amigos pra irem à praia comigo, só a Alexia não tá dando. Ela é muito enrolada. Preciso chamar outra pessoa. 

Saudade do Daniel, vou ficar sendo bem difícil pra ele lutar por mim. Não posso perder a linha. Por que eu não consigo me desligar dele? Preciso arrumar outra pessoa.
Não posso esquecer de pagar a conta que peguei ontem à noite no escaninho, vence hoje. E de pegar as xérox de Cultura Brasileira. Vou estudar muito pra essa prova, deve ser moleza. Essa eu tiro 10. Não vou pensar nisso porque se tirar 3 vou ficar abalada. Queria tanto ganhar mais dinheiro.
Vou sair do estágio no meio do ano e arrumar outra coisa pro ano que vem. Se eu ganhar mil já vou ficar muito feliz. Mil não, mil é salário de gente empregada. Estagiário ganha pouco, Marina, se liga. Mas queria tanto comprar umas coisinhas, dar presentes pra minha mãe e viajar com ela. Nova York, Califórnia... Não. Bariloche! É o sonho dela. Cara, eu preciso levar ela pra Bariloche um dia. 

Que dor no peito, vou ficar menstruada. Deve ser por isso essa TPM toda esses dias. 
7:10 já. AI cacete de agulha! Vai logo, ônibus. Chegando, chegando, vai dar essa viradinha... Odeio gente que já levanta do ônibus pra descer quando ele nem estacionou ainda. Ai, parece fogo no rabo. Me espera, elevador! O espelho do elevador me deixa gorda. Ai, eu que sou gorda, não o espelho. Anda, anda. Sentei, ufa. Bota o celular no silencioso, logo. Ele não fez chamada ainda. Respira. 
É só mais um dia. Amanhã eu acordo 10 minutos antes, eu juro. Mesmo sabendo que não vou conseguir cumprir.

domingo, 5 de maio de 2013

Depois dos 12



Desde os primórdios da minha vida, nunca fui uma pessoa de sair. Se dependesse da genética de pai e mãe, eu seria um bicho-preguiça pelo resto da minha vida e viveria nessa caverna escura que eu chamo carinhosamente de quarto (hoje eu chamo carinhosamente de "chiqueiro").

Sempre vesti roupas largadas (para alguns, de menino) e sempre odiei passar maquiagem.
Abre parênteses - Cara, a SOCIEDADE é uma merda, né não?! Se não existisse esse estereótipo que mulher tem que ser magra, linda, usar salto e saber cozinhar, até hoje eu seria do jeito largada - Fecha parênteses. Gente, fui criada por um pai que ficava mais na praia do que em casa, me levava pra pegar onda em Cabo Frio e, na falta de shampoo, me ensinou a lavar a cabeça com sabonete... Vocês esperavam o quê?! shortinho de piriguete e gloss sabor morango?! Escova e cheirinho Victoria's Secret veio muito tempo depois. Nessa época era "vai de chinelo mesmo e tá bom!". Resultado: virei uma menina que usava tênis Reef verde-musgo, fui faixa azul de jiu-jitsu, mas não sabia passar rímel. Minhas amigas falavam pra eu ser mais... Arrumadinha. Ok, vai, eu vou botar uma rasteirinha.
RASTEIRINHA?! CADÊ O SALTÃO?!
Não, cara, não enche o saco. Salto dói.

Depois da menstruação, veio a vontade (mas não tão forte) de virar mulherzinha. Larguei meu sunkini magenta (só eu que usei?) e comecei a usar biquininho de moça. Que vergonha, minha bunda era toda branca. Comecei a ter que raspar tudo pra usar esse maldito biquíni e aí eu percebi, meus amigos, que dava um puta trabalho ser vaidosa. Mas era a ordem natural das coisas. Minha mãe entendia e e me ajudava nessa mudança de fase. Minhas amigas queriam sair pra beber.

O dia que eu percebi que tinha que largar esse jeito de moleque-filho-de-vagabundo foi quando fui num aniversário da minha melhor amiga, na época. Fui pra casa dela ajudá-la a se arrumar (é até engraçado pensar se eu podia ajudar alguém a se vestir). Ela estava fazendo lá pra 15 anos e botou um vestido, ficou linda. E eu... de bermuda e chinelo. Parecia que tinha voltado do skate com os mano. Ela perguntou se eu ia "assim", e eu envergonhadamente, respondi que sim, não tinha como voltar pra casa. Cheguei chorando na casa dos meus avós, contando o ocorrido. Fui amorosamente acolhida pelos meus velhinhos e aconselhada a seguir com o meu estilo, sendo eu mesma.

...Não rolou. Fiz 16 e comecei a namorar. Namorado pra lá, namorado pra cá. Aumentou a vontade de virar mais mocinha. Não sabia cozinhar, meu namorado que cozinhava para mim. Ouch! Menos ponto.Não deu tempo de ficar madura o suficiente. Fui trocada por uma italiana do olho verde que devia fazer uma comida que era massa. E era bem comida (perco o namorado, mas não a piada).

Aos 18 anos tive o primeiro porre. Ae! E já arriscava o saltinho e o vestidinho curto. A maquiagem ficava por conta das amigas. Pois é, fui vencida pela maioria. Hoje, o blush toma conta de parte do meu rosto, mas tenho saudade da cara limpa e do corpo de sal da praia do Forte, em Cabo Frio. Nada como o tempo.

Odeio boate, gente que bebe até cair, mulher que se esconde atrás dessa máscara grossa que é a maquiagem. E essas obrigações que a gente tem depois dos 12. Só porque desceu um sanguinho não quer dizer que tô preparada. Será que estou?
Vou botar meu chinelo e me recolher na minha caverna.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Estereótipo: Barbie

foto: Luciana Nocchi


Minha amiga foi comprar uma boneca tipo Barbie para fazer um trabalho, e é com isso que ela se deparou na prateleira. Podia ser facilmente um jogo dos sete erros se não servisse para outras crianças brincarem.
Eu estava voltando da faculdade com ela ontem - Uma hora para chegar até Copacabana, naquele trânsito caótico - e, sem ideias para escrever, ela me mostrou essa caixa da boneca Gaby (à direita), e me contou a história.
Quando eu era pequena, a Barbie era referência de beleza, status, saúde, popularidade. As bonecas tipo Barbie também pretendem passar essa imagem... Mas que imagem é essa?! Para mim, as duas pernas são hashis de comida japonesa que prenderam no corpo dela, na falta de material. E essa cor de pele? É Ictería ou Hepatite B? Alguém leva a Gaby pro médico!
O pior é que na capa, as frases "ser linda todos os dias" e "super fashion" fazem contraste com a boneca em si. Além da Gaby estar anoréxica e com essa cor de pele papelão-de-mendigo, as crianças querem ser a Gaby, porque elas aprendem que isso é bonito, vai te trazer dinheiro e vai te fazer casar com um príncipe. Eu já acho um absurdo fazerem as meninas terem essa referência da Barbie original, que custa, em média R$50,00, imagina da Gaby que custa R$10,00? Coitadas das meninas, principalmente as mais pobres: não podem ter Barbie, e tem Gaby, que é a versão precária. Alguma coisa tá errada, aliás, muita coisa está errada.
              
Essa Barbie não é linda? Fui salvar e estava como "Barbie gorda". E a outra é o que? Barbie magra? Ainda existe muita discussão do que realmente é bonito. Mas gente, por favor, não comprem Gaby. Gaby, coitada, foi negligenciada pelos pais na infância. Gaby não teve atendimento médico. Gaby carece de vitamina B. Gaby não é saudável. E Gaby passa a imagem errada para as crianças. Assim como modelos esqueléticas. Sou a favor de mais Barbies "cheinhas" e, consequentemente, de Gaby's mais saudáveis. E não é a sua filha que tem que cuidar, são as fábricas, a mídia. A mídia que faz essa lavagem cerebral. Ai, que vontade de comer um chocolate agora só para fazer jus ao que eu digo. E nessa brincadeira, a gente que já é tratado como adulto também tem que seguir as tendência. Minha tendência não é entrar numa calça 34, gente. Jamais. Não sou Barbie, nem Gaby. Sou uma boneca Pizza-Hut: com bordinha de catupiry.
Viva as realistas!