quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Amor Passageiro

Há algum tempo eu pensei em escrever um texto chamado "amor passageiro", que seria sobre os lindos meninos (ou meninas, para quem gosta) que vemos nos transportes públicos e que nos apaixonamos repentinamente. Tá ali, a gente vê, apaixona (namora, casa e tem 3 filhos nos sonhos) e aí a pessoa, ou você, desce primeiro e acabou, tchau, até nunca mais. Foi bom enquanto durou. São várias por dia, às vezes. Outras, é raro. Em algumas é recíproco. Você sente, a outra pessoa sente. Mesmo que ninguém tome iniciativa. E depois passa. Faz bem pra alma. Quem nunca se apaixonou no transporte público?
Hoje, 3 pessoas vieram me pedir informação no metrô. Uma moça e duas senhoras. Pensei comigo que eu deveria ter uma cara de sabida ou de simpática, e achei sorte eu saber informar direito as três.
A última senhora me perguntou se eu estava indo para Copacabana, e ao responder que sim, ela me perguntou onde ficava a rua tal, e depois desandou a falar. Tinha 81 anos, uma cara ótima, e quando eu a elogiei ela disse que cuidou da moça que cuidava dela até morrer e que o marido a espera há 13 anos no céu. Depois disse, rindo, que estava pronta quando fosse sua hora.
Ela era baixinha e magrinha, usava cabelos curtos e pintados de castanho. Tinha um sorriso sincero que estava sujo do batom rosa, que usava, como também a roupa. Pensei em avisá-la, mas depois desisti. Nunca conhecemos direito os amores à primeira vista.
Quando entramos no vagão, sentei ao seu lado e ela perguntou "qual é o seu nome, menina simpática?", e quando eu respondi, ela deu um suspiro e me contou que seu falecido marido havia namorado uma menina chamada Marina, e que todos diziam que ela era bela e tinha um lindo corpo. Ela, mesmo sem conhecer, morria de ciúmes. Anos depois, conheceu uma menina no ônibus, que não era tão bonita, mas descobriu que as duas faziam faculdade juntas e que ela lhe emprestaria um material que faltava em seus estudos. Era Marina.
A conversa foi curta, visto que ela desceria no começo de Copacabana e eu no final. Quando levantou, me desejou uma boa viagem e novamente disse que eu era simpática. Desejei tudo de bom a ela e pensei que gostaria de encontrá-la de novo algum dia.
Hoje descobri um amor passageiro que talvez nunca mais encontre, mas foi um dos que mais me marcou. Assim como Marina (a do ciúme) marcou Dona Elza, Dona Elza marcou Marina, a passageira simpática, como numa deliciosa coincidência onde todos ganham o prazer de compartilhar histórias. Dessa vez, foi recíproco. Até algum dia, Dona Elza!