domingo, 11 de janeiro de 2015

Obsessão (Devaneio - Parte II)

Queria dizer que pensei em você na noite da virada. O ano virou e eu me sinto virada de cabeça para baixo, vendo tudo que antes eu não via. Me cegava de propósito pra não te ver desse jeito que vejo agora, tão certo. Já não me blindo porque agora penso em você e nesse pensamento você é exatamente como no primeiro dia. Eu sei que é um julgamento precipitado, mas o que eu posso fazer? A minha ideia - ou seria idealização? - é essa. Eu penso em você. Agora. Há um minuto e daqui a um minuto. No meu pensamento, você me liga e diz que está com saudades e me chama para me enrolar no cobertor cinza, ou em você, e assim ficamos esperando o sol iluminar nossos rostos cansados e suados da madrugada. Eu sei que é loucura, mas penso tanto em você que me sinto, sim, louca, desvairada, depressiva, feliz. E os pensamentos sobre você aguçam todos os sentidos... Eu te vejo, te toco, te cheiro, te ouço, te como, e tudo isso é real no pensamento que penso de você. Eu espero você pensar em mim de um jeito especial e lindo, como eu te penso. Desejei a sua presença nos meus sonhos, onde você não era real, mas era (você). . E me bloqueei para não cair nesta armadilha. Ela está sempre no mesmo lugar. Às vezes eu desvio, mas inevitavelmente me distraí com o seu olhar intenso e caí na armadilha, nesse buraco no meio da floresta. Ela é escura, mas amanhece amarelada quando lembro das coisas bonitas em você. É uma luta de mim comigo mesma, mesmo que no meu pensamento você não deixe espaço para armas e no meu coração nada mais deixa caber a não ser o amor. O amor que nasce novamente das cinzas de um rasgado, sangrado, machucado, negligenciado, queimado. No meu pensamento, é você, como já foram outros. Sempre penso: será que dessa vez? Então, prometi que não vou pensar em mais nada... Mas você está lá. Você sempre está.

- Você vai tirar as fotos do meu casamento?
- Vou, sim.
- Não vai, não.
(Silêncio)
...Você vai estar muito ocupado dizendo "sim" no altar.

Constelação (Devaneio - Parte I)

Quando eu disse "dorme", fiz jus a minha tatuagem cravada na costela esquerda. Entre Júpiter e Saturno ele acorda e me faz um carinho. E cada centímetro da barba falhada dele são pedaços do cerrado. Me visto para poder sair, mas ele me despe para poder entrar. Entre Urano e Netuno ele beija o meu pescoço. Dorme e lá está ele na Lua de novo.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Procura-se


Procura-se o homem que não me procurou. Durante quinze dias eu o esperei, liguei, mandei mensagens, telefonemas, telepatias. Por favor, se você o encontrar, avise ou o traga até mim. Esse homem pode ser você. Se for, por que? Porque me fizeste cair nessa armadilha de esperar sem precisar porque você já está em outra, porque não quer, porque esqueceu. Procura-se o homem que me fez esquecer os outros, que me amou na cama durante uma noite inteira e de manhã, quando as outras janelas já se abriam para os poucos raios de luz. Procura-se o homem que eu disse “não” querendo dizer “sim”, porque ele fez nascer o orgulho que não tinha lá, esse orgulho que não deixa as pessoas viverem e fazerem o que querem, sabe? Esse orgulho que, muitas vezes, temos que ter para não sofrer ainda mais. Procura-se o homem que me buscou às duas da manhã em casa só porque estava com saudades. Esse mesmo homem, que se procura, me deixou esperar quinze dias sem notícias. Procura-se o homem abalado, sofredor, indeciso, que pode ter feito sem querer, mas abalou um coração que também sofre, também é magoado vez-sim, vez-não.  Procura-se o homem que me abraçou por trás e perguntou o motivo de eu olhar tanto a janela e que riu quando eu disse que era pelos ângulos dos prédios e a ilusão de estar em outra cidade. Procura-se o homem que me fez pensar no futuro e não mais – tanto – no passado. Mas esse homem, agora, não está aqui. Procura-se eu, novamente. Onde estou? Quem sou eu, agora?
Procura-se um Homem.