quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Será que ele é?



Com a falta de homens no mercado, mulheres passaram a ter a seguinte dúvida: é gay ou não?
Elas carregam esse fardo, coitadas, para todo o lugar. Na rua, no supermercado, no trabalho, na faculdade, no cursinho de inglês, na praia… Em cada olhada, a dúvida. Porque em todo o lugar tem gay que parece hétero, e hétero que parece gay.
Hm, ele conhece gírias do mundo homossexual, mas fala de mulher. Enrustido? Não pode ser…
Às vezes, nosso achômetro apita uns 70% para a homossexualidade do indivíduo, mas os outros 30% não querem acreditar: MAS POR QUE? - elas se perguntam - Ele é tão gentil, educado, divertido, bonito… Tinha que ser gay? E vocês pensam que não, mas mulher está sempre reparando em cada movimento, cada jogada de cabelo ou desmunhecada. Elas estão à procura, nada mais natural do que observar atentamente. Tem horas que precisam se distrair, porque elas quebram a cabeça tentando desvendar o mistério por trás de cada rebolada. E elas bolam perguntas estratégicas, para você pender para um lado. Pena que, às vezes, esse lado é colorido.
Eu sou do tipo que sempre se interessa pelos gays, mas quando descubro que são gays, me apaixono perdidamente e viro friend forever.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O tchau

Vejo minha chefe nesse momento ligando para o programa da Ana Maria Braga e falando com alguma produtora que não conhece o Centro Cultural. Amanhã será minha ex-chefe. Chefe também vira ex, tipo ex-namorado? Não gostaria de cortar relações com ela, e nem é esse meu propósito. Ela fala com muita segurança, simpatia e um leve sorriso nos lábios. Ela gosta do que faz. Lembrei de quando entrei para trabalhar lá, tentava me espelhar nos gestos e nas palavras ao telefone, muito bem colocadas para atrair jornalistas. Era dom, e eu só arranhava. Agora me mostra algumas fotos que sua sobrinha de 12 anos, Nina, tirou dela, para seu livro que vai ser lançado em novembro. Me disse que se eu esquecer da estreia, vai me buscar em casa. E tem como esquecer? No meio de e-mails, releases, fotos e ligações, abro o Word para escrever esse meu último dia, que já é noite. Estou em clima de festa, feliz por estar fazendo outra "viagem profissional", mas deixo para trás pessoas queridas que me acolheram com muito carinho, e também se despedem com o mesmo sentimento. Penso com alegria que, por sorte, a vida sempre me botou em lugares cujas pessoas me acolheram bem. Aqui seria só mais um deles. Cantamos parabéns pelo meu aniversário - atrasado - e pela despedida. Naquele momento, juntou o pessoal da cantina, da secretaria, da produção, da limpeza, o segurança e minha chefe, todos cantando em uma roda onde estava um bolo de laranja com brigadeiros em volta. Só faltou o rabino e os diretores, mas não me importei. Eu estava feliz, genuinamente feliz. Fez-se um silêncio e minha chefe gritou que eu era a melhor estagiária que ela já tinha tido!!! (com muitas exclamações). Não sei a cara que fiz, mas provavelmente tinha muita vergonha. Acabei meus afazeres, mas fiquei sem coragem de desligar o computador e guardá-lo dentro do armário. O que eu estava fazendo? O que me esperaria lá fora? Não sei. Desliguei e andei calmamente até a salinha. Abri o armário como se estivesse deixando lá um presente, intacto. Guardei-o com delicadeza e fechei em silêncio as portinhas. No segundo andar estava tendo uma palestra internacional, ministrada por um americano e um uruguaio que falavam português. Não sei se falavam ou ditavam, pela lentidão. Entrei silenciosamente na sala para fazer meu último registro. Ilana se postava junto ao rabino na última fileira. Ela de olhos fechados. Entrei na cabine de som, Gerson me olhou e perguntou se eu estava indo. Hesitei, mas fiz que sim com a cabeça. Ele levantou da cadeira e me deu um longo abraço e um beijinho no pescoço. Nem liguei. Despedidas não exigem formalidades, somente o calor do abraço e o que mais o corpo pedir: lágrimas, carinhos e torcida para o futuro. Sai da cabine, agachei ao lado da Ilana e sussurrei "Estou indo". Ela abriu os olhos e se levantou, pegou com as duas mãos em concha o meu rosto e deu um sorriso. Falou para eu não sumir. E teria como sumir? Ela se sentou e o rabino se levantou e me deu dois beijos, me desejando sorte. Vindo de um rabino, será que vale a sorte tem peso dois? Subi de novo as escadas para encontrar minha chefe, que continuava, preocupada, no computador. Parei na sua frente e desabafei o quanto era difícil me despedir, por isso daria um "até logo". Ela riu e fechou o computador. Descemos juntas e ela espiou a sala do segundo andar. Ilana continuava de olhos fechados e pensei que estivesse dormindo com a lentidão das palavras ditas pelos palestrantes. No térreo, me despedi dos meninos da secretaria e da produção. Felipe me lembrou que eu estava devendo "chopes com juros" a ele, e falei para marcarmos. Coisa de carioca. Ano que vem a gente marca. Por fim, dei um longo abraço em minha chefe e ela fez os melhores votos para a minha felicidade, e ali, naquele momento, eu quis realmente chorar. Não chorei. Me virei e me despedi também do Fred, os segurança, que disse "mas já?". Sim, Fred, "mas já", mas eu volto para cá ainda, muitas vezes, você vai ver. 
Acenei para o terceiro táxi que passou vazio e entrei sem olhar para trás. Uma parte de mim fica, mas a grande parte foi junto. Meus olhos cruzaram o retrovisor e logo se desviaram, e um sentimento de felicidade me pegou de surpresa: era a última vez que pagaria R$17,00 voltando à noite do Leblon. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Amor Passageiro

Há algum tempo eu pensei em escrever um texto chamado "amor passageiro", que seria sobre os lindos meninos (ou meninas, para quem gosta) que vemos nos transportes públicos e que nos apaixonamos repentinamente. Tá ali, a gente vê, apaixona (namora, casa e tem 3 filhos nos sonhos) e aí a pessoa, ou você, desce primeiro e acabou, tchau, até nunca mais. Foi bom enquanto durou. São várias por dia, às vezes. Outras, é raro. Em algumas é recíproco. Você sente, a outra pessoa sente. Mesmo que ninguém tome iniciativa. E depois passa. Faz bem pra alma. Quem nunca se apaixonou no transporte público?
Hoje, 3 pessoas vieram me pedir informação no metrô. Uma moça e duas senhoras. Pensei comigo que eu deveria ter uma cara de sabida ou de simpática, e achei sorte eu saber informar direito as três.
A última senhora me perguntou se eu estava indo para Copacabana, e ao responder que sim, ela me perguntou onde ficava a rua tal, e depois desandou a falar. Tinha 81 anos, uma cara ótima, e quando eu a elogiei ela disse que cuidou da moça que cuidava dela até morrer e que o marido a espera há 13 anos no céu. Depois disse, rindo, que estava pronta quando fosse sua hora.
Ela era baixinha e magrinha, usava cabelos curtos e pintados de castanho. Tinha um sorriso sincero que estava sujo do batom rosa, que usava, como também a roupa. Pensei em avisá-la, mas depois desisti. Nunca conhecemos direito os amores à primeira vista.
Quando entramos no vagão, sentei ao seu lado e ela perguntou "qual é o seu nome, menina simpática?", e quando eu respondi, ela deu um suspiro e me contou que seu falecido marido havia namorado uma menina chamada Marina, e que todos diziam que ela era bela e tinha um lindo corpo. Ela, mesmo sem conhecer, morria de ciúmes. Anos depois, conheceu uma menina no ônibus, que não era tão bonita, mas descobriu que as duas faziam faculdade juntas e que ela lhe emprestaria um material que faltava em seus estudos. Era Marina.
A conversa foi curta, visto que ela desceria no começo de Copacabana e eu no final. Quando levantou, me desejou uma boa viagem e novamente disse que eu era simpática. Desejei tudo de bom a ela e pensei que gostaria de encontrá-la de novo algum dia.
Hoje descobri um amor passageiro que talvez nunca mais encontre, mas foi um dos que mais me marcou. Assim como Marina (a do ciúme) marcou Dona Elza, Dona Elza marcou Marina, a passageira simpática, como numa deliciosa coincidência onde todos ganham o prazer de compartilhar histórias. Dessa vez, foi recíproco. Até algum dia, Dona Elza!

domingo, 31 de agosto de 2014

Gente como a gente

Eu sabia que existia uma menina linda na época do colégio. Ela era mais velha do que eu.
Soube que ela estava mais próxima do meu círculo social quando a vi malhando na minha academia. Corpo escultural e sempre sorridente. Depois, soube que era amiga de uma amiga da minha mãe. E o círculo se estreitou ainda mais. Eu sabia que um dia iria esbarrar com ela e teria que encarar: ela, linda e gente boa e eu, gordinha tensa e invejosa. As pessoas citavam o nome dela com brilho nos olhos, falavam de como ela era bonita e tinha uma bela barriga chapada.
Caralho.
Indo para um aniversário, já sabia que ela estaria lá. Botei uma roupa confortável e nada apertada, para não marcar. Chegando, avistei-a sentada e sozinha. Chegando perto, encolhi a barriga o máximo que pude e arrumei a postura. Sabia que não adiantaria porque minha cara inchada já denunciava o peso. Mesmo assim, dei meu melhor sorriso e a cumprimentei com dois beijinhos. Ela me abraçou e disse que já me conhecia… Sim.. do colégio… Faz tempo, ó - fez, estalando os dedos.
Mesmo com poucas falas, percebi que ela era mesmo tudo o que diziam, e era esse o meu medo: não conseguia, nem por um segundo, ter raiva dela, daqueles cachinhos dourados e daquela coxa sem celulite. Depois soube que ela tinha sofrido na infância, que tinha terminado um namoro de cinco anos e também tinha dúvidas quanto a faculdade. Por fim, ela disse que me seguiria no Instagram e pude perceber sua leve língua presa. Ela é linda e simpática, e principalmente gente como a gente.

domingo, 29 de junho de 2014

Nuvem

Eu estava normal depois daquele abraço apertado, depois de sentir meu coração batendo forte, batendo grande cheio de esperança carinho segurança, e ele batia angustiado apertado magoado e ainda assim cheio de espera pro amor. Quanto tempo faz, eu não saberia dizer. Eu não estava normal, com a boca ofegante cheia de vontade e verdade pra ser solta, roendo os dentes excessivamente pra não te agarrar a fazer o dia acabar do jeito que a gente gosta, os olhos que se piscassem transbordariam rios de emoção saudade que não se pode explicar, como o espinho que espeta e faz o sangue escorrer, a agulha da morte é esse balbuciar de palavras no meio da noite, a loucura desse dia pra me entregar completa inteira sorrindo feliz, muito mais vidraça do que pedra, meu deus como poderia ser normal se há diálogo, se há distância, se há pensamento curiosidade criando momentos e oportunidades que talvez eu tenha perdido, quem sabe eu ainda tenha? Muito mais penhasco do que cerca, abismo do que terra firme, deixa eu me jogar nesses teus olhos que me olham e escondem o mistério que sua mente não revela e nunca revelará senão for eu agora fingindo a normalidade com esse peito dolorido de amar em silêncio e que te abraça com o coração batendo forte, meu deus como pode ser normal?

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Surpresa

Parei de fazer meu exercício de panturrilha para ver quem estava interrompendo meu personal treiner de contar minhas repetições. Olhei para trás com cara de putadavida e me deparei com a personificação de um Deus Grego (com letras maiúsculas!). Mantive a compostura mas a cara de putadavida se desfez em estouputamasvocêpodeinterromperseulindo. Seus olhos verde-água se viraram para mim e ele acenou com a cabeça. Eu abri meu sorriso mais largo, me desarmando totalmente.

- Falaí cara, beleza? - disse meu personal treiner, estendendo a mão para apertar a do DG (Deus Grego).
- Beleza Hima (Hima é abreviação de "He-man", que por sua vez é o apelido de Ourival, meu personal treiner). Cara, tava surfando ontem e aí vi uma senhorinha se afogando! Fui lá salvar e ela me olhou e começou a rir! Hahaha! Eu falei pra ela respirar e parar de rir, e levei ela pra beira.

CLARO QUE COMEÇOU A RIR, NÉ, QUERIDO, ELA DEVE TER PENSADO QUE TAVA MORRENDO E FOI DEUS QUE MANDOU UM HOMEM LINDO DESSES PRA SALVÁ-LA.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Loucura de amor



Você já esteve apaixonado?
Pois é, eu estou apaixonada há quase 9 meses (eu inclusive já poderia estar parindo nosso filho!), e não o vejo há 6. E por isso, me pergunto: paixão é uma coisa enlouquecedora, que faz você pensar em alguém 24h por dia, ficar bobo por qualquer coisa… Mas como não nos vemos (e não me pergunte o motivo) e quase não nos falamos, às vezes penso que é amor. Tenho certeza que casaremos um dia e teremos um filho homem que será louco para aprender fotografia, assim como o pai.
Sonho.
Eu sou tão apaixonada que nem sei o real motivo de não nos encontrarmos, mas ainda assim o espero-esperançosa. Penso em mil possibilidades de reencontro, como será o beijo, o abraço, o olhar e o sexo (o que é reencontro sem sexo né gente? Pelamor). Penso em fazer mil loucuras de amor: como jornalista, já pensei em sugerir uma pauta para o jornal que ele trabalha, para ele vir fotografar onde eu trabalho; Já pensei em ir de carro até o trabalho dele. Isso porque não sei exatamente onde ele mora, senão…
Já pensei em rezar para todos os santos, rezar antes de dormir, procurar uma dessas moças que leem a mão, ou as que trazem os amores em 3 dias. Já pensei em jogar tarô, tarô espanhol, ir em um centro espírita e até pedir pra São Longuinho. Ô, São Longuinho, se tu me trouxer esse homem eu pulo até durante um mês! E de felicidade!
Quando a vida não traz, a gente apela até para os meios galácticos, espíritas. Mesmo crente, duvido que na hora do aperto, você não tenha pedido a Deus.
Com essa minha mania de romântica incurável, ainda faço alguma loucura dessas. Mais provável em carne e osso. No meu caso, ou peço a Deus, ou adeus.

terça-feira, 11 de março de 2014

Irmãzinha peluda



Quando eu era criança, sempre quis ter um cachorrinho. Mas, mesmo muito nova, sempre pensei que um dia, ele iria embora e eu sofreria muito. Por isso, preferia não ter.
Com oito anos, ganhei a Manuela, uma poodle toy grande-demais-para-ser-toy caramelo. Minha mãe a reservou, era a única. Me apaixonei de cara, ela tinha alguns dias de vida, apenas. Meus pais a pegavam  no colo e ela era do tamanho da palma da mão deles.
Meu pai construiu uma caminha para ela: pegou uma caixa de isopor, cortou a parte de cima, para ficar mais baixa, e construiu uma escadinha para ela subir. Dentro, uma almofada do tamanho certo, para ficar mais confortável. Em sua primeira noite em casa, ela chorou, e eu, criança, chorei junto, dizendo a ela para não chorar.
Quando cresceu, dormia na cama com meus pais, assim como eu fazia.
Manu participou de viagens, correu nas praias de areia fina de Cabo Frio e na grama verde da nossa casa em Teresópolis. Morou em frente à praia. Segundo meu pai, foi mimada igual a mim. Ela vivenciou brigas dos meus pais, assim como eu, e me viu chorar. E mesmo se ela estivesse triste por dentro, sempre deitou ao meu lado e lambeu minhas lágrimas. Por isso, desde que chegou, já era minha irmãzinha.
Pois bem, 14 anos se passaram. Manu foi leal, parceira e companheira até o último dia. Aquele medo de criança tinha voltado, o medo da partida, da despedida. Mas ao contrário do passado, eu não tinha me arrependido de tê-la. Experimentei cuidar de um ser que necessitava de muito carinho e amor, e o dei com todo o prazer. O maior amor. Manu já não era cachorro, era gente. Tinha sentimentos, medos, felicidades, e estava ali, mesmo surdinha e ceguinha, o tempo todo.

Agora ela está no céu, junto com meu avô, que ela também amava tanto. E os dois comem muitos doces juntos!

Te amo para sempre.
Até qualquer dia, minha bolinha de caramelo peluda.
Cuida de nós, como você sempre fez.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Amor de infância

Se conheciam desde criança e nutriam um amor secreto, um pelo outro. Se encontravam à noite, se beijavam e se olhavam com o carinho de namorados de anos. Depois, seguiam a vida. Na ida para a faculdade, se encontravam no ônibus. Ela só o cutucava para ele sentar ao seu lado por educação, ela dizia. No fundo, por segurança, afeto. Ele sentava, botava o fone de ouvido e olhava para a frente. Ela pegava um livro, folheava, olhava pela janela e pensava no que ele estava pensando. Em nada, provavelmente. Ou nas provas, nos trabalhos, na responsabilidade que se tem depois dos vinte anos… Mas nunca pensava nela. Ou talvez pensasse nos momentos íntimos. Era melhor quando ele era só uma diversão, um beijo sem compromisso, mas agora que ela estava correndo atrás, sabia como essa história terminaria: como sempre termina, a-corda-que-arrebenta-para-o-lado-mais-fraco. O ponto chega e ele diz que tem que correr porque a aula é no último andar. ''A gente se encontra. Valeu."

Valeu. Na cabeça dele, ela deve ser só mais um "brother" que ele beija na boca.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Perseguição

(Ai, o Facebook…) 


"Flávio curtiu o seu status", leu pelo Smartphone com os olhos cerrados. Esse vício que faz pegar o celular mesmo antes de abrir os olhos. Que merda! Flávio? Por que ele não some de uma vez?
Não queria ver Flávio nem pintado de ouro. Era mais um na sequência das decepções. E essa foi das brabas. Se tinha voltado para a ex-namorada, então por que não sumia de uma vez?
Mais uma notificação.
"Flávio curtiu sua foto" Foto? Ah, a do perfil. Tinha que ser. Ela não sabia se era uma indireta. Sua mente dizia que não, mas o coração sempre ficava confuso. Queria sim Flávio pintado de ouro. Até de lama. Até de maquiagem. Queria.
Resolveu sair de casa para esquecer a tecnologia. Pensava, por vezes, que só fazia piorar sua situação. Tomara que suma, pensou. Desaparece!
"Fláaaaaaavio…", ouviu do outro lado da rua e virou rápido, num susto. Seria? Não. Suspirou um pouco aliviada e um pouco decepcionada. Apenas um amigo chamando o outro, que entrava numa loja.  Mas será possível? Até na rua?

(SIM! Até na rua, menina! Você acha que a vida para só pra você consertar seu coraçãozinho? - Disse a consciência, com raiva)

Por que não some?!

Sumiu. Excluiu o Facebook. Foi para a Austrália. Onde Flávio não existe.
Nem ele, nem o nome.



sábado, 1 de fevereiro de 2014

Novidade?

A bolinha vermelha com o número 1 surgiu na caixinha das mensagens. Um grande amigo que não via há anos. Falar, só falou em julho do ano passado, e pelo Facebook. Tinha um pouco de medo de amigos sumidos:

- Que saudade! Quais as novas?

(Quais-as-no-vas? Quais? Nem ela sabia. Desde o tempo que se viram, muita coisa tinha mudado, praticamente tudo se encaixava nas "novas". Mas o que dizer? O que ele queria saber, de verdade? Se eu estava bem? Se eu tinha passado por maus bocados? Sofreu por amor diversas vezes, mas se perdeu na contagem, porque praticamente eram todas as vezes. Isso seria novidade? Falar o que? Que chorou até dormir, que o cachorro está doente, que a tia deu um ataque e não quis fazer o Natal? O que, meu Deus?! Viajou por cinco dias e queria passar o mês inteiro naquela cidade que não tinha porra nenhuma para fazer. Muitas casas, prédios, muitos shoppings, e quase ninguém na rua. Achava a cidade um pouco parecida com ela mesma. Talvez por parecer triste, mas com o sol e o calor, se fazia alegre por dentro. Um pouco triste, um pouco alegre. Era assim que se sentia. Deveria dizer? Talvez tenha uma entrevista de emprego em breve, mas não saberia o rumo dela. ''Vai dar tudo certo!", ele responderia, tentando dar alguma esperança. Hm, esperança. Não queria esperança, queria certeza. Esperança só faz a gente se afundar ainda mais, pensou. Talvez fosse melhor sair sem responder. Deixar um buraco na pergunta. Quem sabe ele faria a mesma pergunta no ano que vem, ou daqui a 10 anos. E nem lembraria que ela deixou um vácuo na conversa. Novas? Não tinha resposta. Era tudo novo, e tudo velho. Não ganhou na loteria, não engravidou. Mesmo que não fosse lá um pai dos melhores, engravidar seria uma novidade. Mas não. A casa tinha o mesmo cheiro, a rua o mesmo barulho. Nada. O que dizer?)

- Ah, tudo na mesma! E você?

sábado, 25 de janeiro de 2014

John Lennon da Estudantina



Me encostei em uma mesa de madeira, tateando-a para ver se podia sentar. Estava muito quente já pelo clima natural de janeiro, e ainda mais pelo calor humano que se instalava na Estudantina. Ao meu redor, pessoas dançando juntinho um forró lento, o famoso ''xote'', outras se arriscando nos passos, mesmo sem saber. As que não estavam na pista, procuravam alguém para dançar ou apenas ficavam no balcão bebendo cerveja.
A mesa estava molhada, portanto me escorei nela procurando um momento de descanso e refresco, mesmo sem uma brisa. Dois amigos estavam a um metro de mim, rindo e se beijando. Os outros, nem sabia por onde ''dançavam''. Observei a pista cansada, o vestido colava em mim de tanto suor. Só tinha sobrado um pouco de batom nos lábios e o cabelo estava desarrumado.

"Oi linda, você está sozinha?", tomo um susto quando ouço ao pé do ouvido. Ele sorriu, e eu fiz o Raio-X: Indivíduo da minha altura, magro, mulato, trancinhas tipo-Snoopy-Dog. Um brinco que parecia um diamante pendurado nas orelhas. Calça jeans dobrada até os joelhos. Não vi os sapatos, mas pareciam All Star.

''Oi, ehm, estou com os meus amigos…'' sorri, para não ser grosseira, caçando os meus amigos com os olhos desesperados. Eles não estavam mais ali. Merda! Que amigos são esses?!

"Qual o seu nome?''
"Marina…'', respondi me arrependendo de não ter dito ''Joana'', ''Lara'', ou até mesmo ''Francyellen''. Sempre penso em me apresentar com outro nome.

"Estava te vendo aqui sozinha há uma meia hora. Querida, seu sorriso é lindo, você é linda demais. Esse batom, esse cabelo, essas sobrancelhas. Sua beleza é natural, mas você tem presença. E o que importa pra mim é a sua presença aqui comigo. Vou te falar uma coisa, querida: você é maravilhosa!"

"Querida"? Ele estava me xavecando ou querendo pegar a marca do meu batom? Anitta expulsa as invejosas e eu as trago mais para perto, é isso? Deus, is this some kind of joke?

"Ah, obrigada, mas você só está aqui há cinco minutos. Como pode saber tudo isso de mim?''

''Você é um mulherão! Vai dizer que você não se olha no espelho e não se acha gata?!''

Parei. Sim, é verdade que eu me olho e não me acho feia, mas também maravilhosa é um pouco dema…

''IH, pensou! Então você se acha gata, tá vendo! Querida, você quer beber alguma coisa? Uma água, uma cerveja? Me diz o que posso fazer por você?"

"Obrigada, não quero nada, não. Mas… você não disse seu nome..?"

"Meu nome é John Lennon"

Peraí, eu ouvi certo? John Lennon?

''Como é? John Lennon? Sério?''

''QUERIDA (começou…), você acha que eu estaria mentindo para você desde que eu cheguei para falar contigo? Você acha que eu mentiria sobre te achar linda? A troco de quê? Se eu pudesse, te faria feliz hoje, amanhã e até quando Deus quisesse… "

Tive certeza que era castigo, mesmo. Eu fico sozinha e o cara que vem puxar papo comigo se chama John Lennon? Não bastou sofrer por todos os meninos de nomes normais no fim de 2013, e agora no começo do ano Deus quer me agradar com um falso-astro-da-música?!

Me arrastou para o balcão e pediu uma água e dois copos. Na minha cabeça, ouvi meu pai dizendo ''Minha filha, nunca aceite bala de estranhos e nunca beba no copo dos outros''. Ri por dentro, e me senti criança novamente, num misto de bobagem e seriedade com a situação.

Ele abriu a água na minha frente e me serviu. Bebi. Achei que seria de extrema má vontade não beber, mas já me imaginei caída num beco sujo, sem lenço e sem documento no dia seguinte.

Depois disso, "John" me fez apresentá-lo para os meus amigos e ainda queria ficar comigo a noite inteira, me levar em casa de moto (DE MOTO! Meu pai teria um surto se me visse) e direcioná-lo para casa, de Copacabana. E tentou me beijar, claro, como um bom xavequeiro.
Não dava mais, estava de bom tamanho, eu já tinha feito o meu papel de boa moça, educada e sorridente. Tinha que dar um NÃO logo de cara, para ele entender que comigo é assim.

''Olha, você é muito legal, mas VAMOS VER, está bem? Não prometo nada.''

John foi embora com meu telefone. Não consegui dizer a palavrinha mágica negativa de três letras. Agora me arrependo por receber mensagens no Whatsapp dizendo que sou ''linda de mas muito mesmo''. Não respondo, mas sou elogiada todo dia, mesmo com o português errado.