quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Amor de infância

Se conheciam desde criança e nutriam um amor secreto, um pelo outro. Se encontravam à noite, se beijavam e se olhavam com o carinho de namorados de anos. Depois, seguiam a vida. Na ida para a faculdade, se encontravam no ônibus. Ela só o cutucava para ele sentar ao seu lado por educação, ela dizia. No fundo, por segurança, afeto. Ele sentava, botava o fone de ouvido e olhava para a frente. Ela pegava um livro, folheava, olhava pela janela e pensava no que ele estava pensando. Em nada, provavelmente. Ou nas provas, nos trabalhos, na responsabilidade que se tem depois dos vinte anos… Mas nunca pensava nela. Ou talvez pensasse nos momentos íntimos. Era melhor quando ele era só uma diversão, um beijo sem compromisso, mas agora que ela estava correndo atrás, sabia como essa história terminaria: como sempre termina, a-corda-que-arrebenta-para-o-lado-mais-fraco. O ponto chega e ele diz que tem que correr porque a aula é no último andar. ''A gente se encontra. Valeu."

Valeu. Na cabeça dele, ela deve ser só mais um "brother" que ele beija na boca.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Perseguição

(Ai, o Facebook…) 


"Flávio curtiu o seu status", leu pelo Smartphone com os olhos cerrados. Esse vício que faz pegar o celular mesmo antes de abrir os olhos. Que merda! Flávio? Por que ele não some de uma vez?
Não queria ver Flávio nem pintado de ouro. Era mais um na sequência das decepções. E essa foi das brabas. Se tinha voltado para a ex-namorada, então por que não sumia de uma vez?
Mais uma notificação.
"Flávio curtiu sua foto" Foto? Ah, a do perfil. Tinha que ser. Ela não sabia se era uma indireta. Sua mente dizia que não, mas o coração sempre ficava confuso. Queria sim Flávio pintado de ouro. Até de lama. Até de maquiagem. Queria.
Resolveu sair de casa para esquecer a tecnologia. Pensava, por vezes, que só fazia piorar sua situação. Tomara que suma, pensou. Desaparece!
"Fláaaaaaavio…", ouviu do outro lado da rua e virou rápido, num susto. Seria? Não. Suspirou um pouco aliviada e um pouco decepcionada. Apenas um amigo chamando o outro, que entrava numa loja.  Mas será possível? Até na rua?

(SIM! Até na rua, menina! Você acha que a vida para só pra você consertar seu coraçãozinho? - Disse a consciência, com raiva)

Por que não some?!

Sumiu. Excluiu o Facebook. Foi para a Austrália. Onde Flávio não existe.
Nem ele, nem o nome.



sábado, 1 de fevereiro de 2014

Novidade?

A bolinha vermelha com o número 1 surgiu na caixinha das mensagens. Um grande amigo que não via há anos. Falar, só falou em julho do ano passado, e pelo Facebook. Tinha um pouco de medo de amigos sumidos:

- Que saudade! Quais as novas?

(Quais-as-no-vas? Quais? Nem ela sabia. Desde o tempo que se viram, muita coisa tinha mudado, praticamente tudo se encaixava nas "novas". Mas o que dizer? O que ele queria saber, de verdade? Se eu estava bem? Se eu tinha passado por maus bocados? Sofreu por amor diversas vezes, mas se perdeu na contagem, porque praticamente eram todas as vezes. Isso seria novidade? Falar o que? Que chorou até dormir, que o cachorro está doente, que a tia deu um ataque e não quis fazer o Natal? O que, meu Deus?! Viajou por cinco dias e queria passar o mês inteiro naquela cidade que não tinha porra nenhuma para fazer. Muitas casas, prédios, muitos shoppings, e quase ninguém na rua. Achava a cidade um pouco parecida com ela mesma. Talvez por parecer triste, mas com o sol e o calor, se fazia alegre por dentro. Um pouco triste, um pouco alegre. Era assim que se sentia. Deveria dizer? Talvez tenha uma entrevista de emprego em breve, mas não saberia o rumo dela. ''Vai dar tudo certo!", ele responderia, tentando dar alguma esperança. Hm, esperança. Não queria esperança, queria certeza. Esperança só faz a gente se afundar ainda mais, pensou. Talvez fosse melhor sair sem responder. Deixar um buraco na pergunta. Quem sabe ele faria a mesma pergunta no ano que vem, ou daqui a 10 anos. E nem lembraria que ela deixou um vácuo na conversa. Novas? Não tinha resposta. Era tudo novo, e tudo velho. Não ganhou na loteria, não engravidou. Mesmo que não fosse lá um pai dos melhores, engravidar seria uma novidade. Mas não. A casa tinha o mesmo cheiro, a rua o mesmo barulho. Nada. O que dizer?)

- Ah, tudo na mesma! E você?