terça-feira, 22 de março de 2016

Sobre unhas, dons e sogras



Faço unha com a Hellena há, no mínimo, dois anos. Hellena é do interior do Ceará, tem 29 anos, marido e dois filhos e é moradora do morro do Pavão, em Copacabana. Começou fazendo a unha do meu pai (sim, meu pai é um homem que faz a unha com muito orgulho) e depois eu fui ser cliente dela porque, segundo ele, ela era maravilhosa. Desde então, sempre conversamos e rimos contando histórias, mas hoje ela resolveu me contar a dela.

Quando chegou no Rio de Janeiro, Hellena fazia faxina numa casa no Pavão mesmo. Não saía do morro pra nada, segundo ela. Quando casou-se - seu marido também é do interior do Ceará, mas foi só conhecê-lo em solos cariocas - veio de presente a sogra. E que sogra:

- Hellena, a cliente tá vindo aqui fazer a unha. Você vai fazer junto comigo.
- Eu não! Não sei nem pegar em um alicate!
- Vai sim, eu te ensino.

E, assim, Hellena, grávida do primeiro filho, Jefferson, passou a ser manicure junto com sua sogra. Cada cliente demorava três horas para ir embora, mas o serviço era feito. Passado um tempo aprendendo, quando chegava no fim do ano, era fila na porta para ter as unhas pintadas. E aí era assim: Hellena trabalhava de manicure. A sogra, de costureira.

Quando Jefferson teve idade para ir à creche, a sogra de Hellena a matriculou em um curso de manicure, promovido pela Prefeitura. Em 3 meses, ela estava com o diploma em mãos e pronta para seguir carreira. E assim vão 8 anos trabalhando em seu primeiro emprego.

Por que estou contando essa história em meio a um mundo de esmaltes de todas as cores e intensidades?

Porque Hellena tem uma irmã, Jessica. E Jessica fez um curso de manicure pago pela mãe. Um curso caro. Mas não exerce a profissão. E Hellena me disse com todas as letras:

- Jessica não trabalha porque não tem o dom. Não adianta, tem que ter o dom, tem que gostar disso.

- E você gosta? - perguntei.
- Eu amo. Deus me deu esse dom, e agradeço sempre por Ele ter botado a minha sogra no meu caminho. Se não fosse ela, hoje eu não seria nada.

No auge de seus 29 anos, uma manicure com agenda lotada - uma das poucas em meio à crise - me ensinou duas lições importantes:

1 - Tem que ter o dom e gostar do que se quer fazer. Não adianta querer cursar engenharia se não gosta de matemática, se não gosta do universo dos cálculos. Não adianta ser impaciente e querer ser manicure. É um trabalho de muito cuidado e atenção.

2 - Nem toda sogra é bruxa. Algumas te dão até o caminho das pedras.

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