domingo, 4 de dezembro de 2016

conexão metrô



O metrô parece um mundo paralelo.
Tinha uma menina no metrô hoje de cabelinho curto, me lembrou a Natalie Portman.
Ela abriu um pote com um sanduíche e começou a comer despreocupada.
Dava mordidas pequenas, mas fazia bico pra mastigar. E mastigava forte.
De repente, bateu o desespero e ela começou a se apalpar. 
"Celular", pensei. Claro.
Procurou na bolsa, não achou.
Apalpou os dois bolsos de trás da calça. Não achou.
E o bico mastigante lá. E ela tentando disfarçar.
Por um minuto, me identifiquei com ela.
Incrível como a nossa vida, hoje, depende de um eletrônico.
Ela botou o sanduíche no pote, fechou e guardou. Se levantou e olhou no assento.
Nada.
Comecei a ficar desconfortável com a situação.
Minha vontade era levantar e dizer "Peraí que vou te ajudar, Naty" e procurar embaixo do banco.
Voltei pra realidade.
Duas cadeiras depois de Naty, uma outra moça estava sentada muito compenetrada ouvindo seu fone de ouvido.
Ela dedilhava a bolsa com raiva. O olhar perdido.
A boca balbuciava algumas palavras cantadas.
Pegou o celular para olhar a hora e grudado atrás estava o RioCard. Achei curioso e quis perguntar como ela fez aquilo.
Realmente era uma puta ideia.
Pensa: ela entra no metrô escutando música, com o celular na mão e é só encostar o celular na máquina pra liberar a catraca.
Gênia.
Fiquei pensando que devo ser muito carente pra querer sempre interagir.
NEXT STOP, JARDIM OCEÂNICO. THIS IS THE FINAL STATION
Agora a Natalie Portman tupiniquim já tinha achado o telefone.
E acabado o sanduíche.
Aí uma coisa me pegou de surpresa:
Seu casaco estava com etiqueta.
Quase tive uma síncope.
Pensei que, se eu tinha uma missão na Terra, era estabelecer uma comunicação com a Naty e avisar sobre a etiqueta.
Fiz contato visual tentando não parecer uma maluca.
Meu tempo estava acabando.
Me mexi no banco, numa última tentativa dela olhar.
Natalie simplesmente se olhou no reflexo da janela do metrô e mexeu no cabelo.
O trem estava quase parando.
Ela se levantou e caminhou na direção oposta a que eu estava.
Falhei.
Tentei me consolar pensando que talvez outro anjo na Terra avisaria. Ou ela mesma perceberia.
É um inferno ser eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário