domingo, 1 de setembro de 2013

Designer do meu interior



Foi tudo tão rápido, como o primeiro vagão do metrô que passa na estação por uma moça e a deixa com os cabelos bagunçados. Assim como o metrô, você também parou. Desceu na minha estação e bagunçou tudo aqui dentro, ó, moço. Mas não precisa nem me ajudar a arrumar, deixa bagunçado mesmo, deixa assim que está tudo em ordem. Agora está. Antes é que estava bagunçado com poeira, teias de aranha, jornais velhos, cartas não respondidas, correspondidas. Antes aqui estava com esse cheiro de porão de casa velha, rústica, podre. Ninguém queria catar os cacos que aqui estavam, muito menos eu, que morava já acostumada com isso tudo, as flores murchas e o sangue que já havia manchado o carpete. Deixa tudo aí, vamos para outro lugar. Me leva para um lugar leve, doce, puro, livre. Mesmo que leve dias e que, no começo sim, há medo de se mudar, não desiste. Me leva. Me mostra que tem vida lá fora e que aqui dentro as coisas se arrumam num estalar de dedos, é só querer, é só deixar. Até no lixo nasce flor, não é? Me carrega porque eu me entrego, moço. Só não amassa os cacos que ainda estão aqui. Eu vou varrer pra você poder entrar limpo e não se espantar tanto. A vista da janela vai ser mais bonita de agora em diante com você aqui, radiante. Foi tudo tão rápido, moço, você entrou sem pedir licença e já foi bagunçando tudo, que nem criança quando ganha um brinquedo novo. Pintou as paredes e trocou as luzes, renovou em poucos dias o que estava esburacado, feio, sujo. Tem lugar pra você se hospedar, claro, estava mesmo sem ninguém. Moço, foi tudo muito rápido, mas te canto: quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar. Bonitinho.

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