terça-feira, 13 de agosto de 2013

Pai





Dia dos Pais passou e eu fiquei devendo essa pra vocês, e pra ele.
Pra todo mundo é relativamente fácil falar do pai: amigo, companheiro, parceiro, leal, inteligente... Inteligente. Meu pai é um cara inteligente. E não digo inteligente porque ele sabe estacionar o carro em um cubículo de vaga, ou porque vez ou outra dá uma de marceneiro fazendo móveis para botar em casa. Meu pai é um cara inteligente porque sabe o que faz com a própria vida. Não desperdiça em qualquer caminho. Ele se formou em Administração, mas nunca exerceu, sequer gostou. Se pudesse escolher uma faculdade, seria de praia e mar, com certeza. Mar de preferência com ondas e uma vela de windsurf, ou um pé-de-pato. Gostava tanto, tanto de mar que quando soube que seria pai de uma menina, botou seu nome de Marina, veja só - eu não gostava, mas fiquei feliz por não ser Iemanjá.
Meu pai também nunca foi de estudar, sempre chegava na faculdade com areia nos pés (você deve estar pensando "nossa, mas que pai vagabundo, hein?"), mas ainda assim foi  inteligente e nobre o bastante para terminar os estudos e ter uma formação acadêmica. Foi sócio e webdesigner do Guapo Loco (aquele restaurante mexicano que você amava em Búzios, sabe? Eu comia de graça, beijo!) por cinco anos, e quando o restaurante estava prestes a fechar, usou o dinheiro guardado para fazer um curso especializado de Guia de Turismo. Morar quatro anos em Haia, na Holanda, aos 20 anos o fez aprender inglês melhor do que qualquer curso no Brasil. Quando digo que foi aí que ele se encontrou, eu não exagero. Maior do que o sorriso dele, só o dos gringos. E foi passando de boca em boca, no exterior e no Brasil, e hoje ele deve ser conhecido como o guia mais animado da América (estou chutando, claro, e sou filha também. Suspeitíssima para dizer). Meu pai é um cara inteligente porque faz o que pode, por todos e por ninguém também. Por ele, muitas vezes. Só vai dormir tranquilo se ajudar alguém que ele vê que realmente precisa. E não digo apoio moral, apenas... Apoio financeiro sim, e qual o problema?! Viver endividado para o senhor Rogerio (ou RogerRio, como é seu nome de guerra; ou ainda Rorérito, como chama minha avó) não é nada demais. A vida vai bem, muito obrigado, dinheiro depois a gente dá um jeito. Essa inteligência ele usou para ser feliz. Ele podia sim fazer um concurso, passar, ganhar rios de grana todo o mês e não me apurrinhar porque paga a minha faculdade todo o mês. Ele me apurrinha, me enche o saco, mas nós sabemos, olhos nos olhos, que ele tem razão em tudo que diz, sempre. Sempre me acompanhou em todos os esportes, todas as apresentações de colégio, e brigou comigo quando eu não tive coragem para enfrentar uma situação. Todas as vitórias ele estava lá, e todas as derrotas ele estava também para me dizer o quanto eu ainda era vencedora. Não imagino ele, um cara que ia para a faculdade de chinelo e era goleiro de futebol na praia, botar todos os dias um terno e ficar dentro de uma microsala com ar condicionado, dando uma de sério. Não! Ele é um cara solto, é da vida, é dos outros e é meu também, e é feliz assim, trabalhando de bermuda. Acho que, devido a esse jeito tão descontraído, devo ter herdado, porque nada explica eu rir por nada e gostar disso. A gente não precisa de motivo para ser feliz, ele me ensinou isso. Meu pai, por ser tão inteligente como eu disse, não merecia apenas um lugar no céu, merecia almofadas, cerveja, uma linguicinha de aperitivo e gregas seminuas abanando-o (se minha madrasta ler, to f...). A mesma paixão pelo mar está no meu nome, e hoje eu represento esse amor em carne e osso. Que honra.
Rogerio, RogerRio, Rogérito, Rodrigo Santoro, Pai, eu te amo. Você é o meu vencedor.

("herói" é muito mainstream, e além disso, eles não existem na vida real!)

Um comentário:

  1. Muito bom Marina! O texto está redondinho, gostoso de ler. Bj
    Andrea

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